quinta-feira, 24 de maio de 2018

Para não dizer que falei o contrário (versão 2018): ou sobre os golpes engatilhados

                           Fila de "paneleiros arrependidos" para abastecer em Vitória num domingo (27/05) à noite
O interessante da investigação contínua dos mass media a partir de um tensionamento pautado na dialética negativa é que essa postura nos permite prever/desvelar processos mais amplos a partir do comportamento dos veículos hegemônicos do jornalismo (que é muito, muitíssimo previsível). É o caso da presente greve dos caminhoneiros (será deles mesmo?), responsável por provocar um estado turvo de excitação na maioria, que não fala em outra coisa (sobretudo por outro ponto de vista) hoje. Por isso, sem qualquer pretensão de estipular definições fechadas, fazendo antes um exercício de estabelecer hipóteses de botequim, questiono:

i) Quando, na história deste país, vocês viram Globo (& cia) apoiando nas entrelinhas um movimento de trabalhadores? (Comparem o tom da cobertura de qualquer manifestação de professores versus o tom adotado desde ontem).

ii) Quando, na história deste país, vocês viram uma cobertura majoritariamente positiva de qualquer movimento popular? (Comparem a seleção de fontes - populares ou oficiais - para falar de manifestações estudantis versus a seleção de fontes para a atual greve).

iii) Por que o primeiro produto de interesse a esgotar, ser reajustado e pautar a mídia foi justamente o combustível?

iv) Por que a mídia tolera pacientemente a ausência de respostas das forças de repressão, tão "solícitas e sensíveis" ao seu apelo pelo "ir e vir" em outras situações?

E aí adiciono questões puramente objetivas (para além do jornalismo) para pensarmos mais.

v) Qual a capacidade de operação de um posto de combustível sem reabastecimento do fornecedor? O estoque não acabou rápido demais em muitos lugares?

vi) Vocês lembram que, em muitas cidades, transportadoras e associações de proprietários de postos de combustível financiaram juntos os paneleiros no golpe de 2016?

vii) Vocês já viram patrão distribuindo lanche para funcionário grevista, como A Gazeta mostrou hoje na hora do almoço? Sindicato patronal comprando a luta de sindicatos de trabalhadores? Papai Noel e Coelhinho da Páscoa?

viii) Não é estranho não ouvir nenhum "fora Temer", mas ver aos montes faixas pedindo "intervenção" quando a direita não tem nenhum candidato decente para as próximas eleições presidenciais?

Sei que tudo isso pode parecer teoria do caos ou brizolismo puro ("se a Globo for a favor, sou contra..."), mas ao fim é só uma leitura/hipótese possível: trata-se de um jogo de cena, com um desabastecimento que foi programado objetivando testar/preparar os níveis de tolerância da população para novos (e obscuros) golpes. O problema não é o Diesel como não era o preço da passagem. Posso estar errado (e que feliz seria!), mas o apoio cego das forças de esquerda a esse movimento me parece um equívoco tão inocente quanto foi manifestar solidariedade à paralisação dos PMs no ES.

terça-feira, 22 de maio de 2018

Alberto Dines: uma perda irreparável


Não é equívoco algum dizer que o Brasil vive uma crise sem precedentes no Jornalismo, cada vez mais convertido à jornalismo-de-jota-minúsculo. E aqui não me refiro à crise de credibilidade ou econômica (e essa, em sua proporção desmedidamente folclórica, me importa pouquíssimo!), mas à escassez do bom Jornalismo-de-jota-maiúsculo. A despeito de hercúleas tentativas contra-hegemônicas (cito como exemplo a Agência Pública e não menciono nenhuma ação “pós-massiva” para não ser injusto), esse anda em falta faz muito! Num contexto de morais bárbaras estabelecidas como valores-pátrios, somos espectadores de um tensionamento (anti)ético sem precedentes dos nossos (!?) maiores conglomerados de comunicação, que embasados numa licença pública com vigor ad aeternum, trocam afetos de colo de mãe com o judiciário escancarando um objetivo sempre presente, mas até então tácito: vale f*** com essa p*** toda de BraZil pela grana. É como se dissessem: “Danem-se as aparências e envoltórios, pois o compromisso social já naufragou faz é tempo e vocês aplaudiram com panelas”. Pois é. Tempos hodiernos de desesperança e desespero. Tempos em que a lucidez é tão ausente quanto o Jornalismo-de-jota-maiúsculo. E nesses tempos, perder uma figura histórica de luta como Alberto Dines é triste pra c***. Irreparável. Descanse em paz, mestre. Seguimos lutando por aqui, buscando benjaminianamente transformar a melancolia em ação.

segunda-feira, 14 de maio de 2018

A repetição da história em "Fazenda Modelo", de Chico Buarque (V Semana de Letras do Ifes)


Resumo da Comunicação:

A repetição da história em "Fazenda Modelo", de Chico Buarque: uma alegoria válida para o Brasil pós-golpe/16

"Hegel comenta que todos os grandes fatos e todos os grandes personagens da história mundial são encenados, por assim dizer, duas vezes. Ele se esqueceu de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa" (MARX, 2011, p. 25). Replicada à exaustão por críticos e pelos marxistas mais ortodoxos, a célebre citação de Karl Marx ainda segue como potente pressuposto para a análise de nosso tempo, sobretudo quando consideramos o contexto de exceção e as inúmeras repetições e retrações históricas que marcam o Brasil após o golpe jurídico-midiático-parlamentar de 2016. No referido contexto, toma-se o livro "Fazenda Modelo" (1974), de Chico Buarque, escrito como alegoria à Ditadura Militar, como crítica possível ao Brasil pós-golpe/16. Nesse sentido, utiliza-se a Teoria Crítica da Sociedade para uma investigação hermenêutica da obra, desvelando diferentes continuidades entre os dois períodos que podem ser compreendidas a partir da "novela pecuária".

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