Portfólio: algumas publicações em editorias de 'veículo'



Deixo o alerta: alguém que recebeu nome de Emerson por causa do xará mais famoso, o Fittipaldi, tem uma relação complicada e estreita demais com automóveis. E quando se trata de Fusca é que a coisa desanda - há uma década sou proprietário de um 1975 1300L (fotos) e me confesso aficionado pelo besouro [que, inclusive, foi o carro de minha esposa em nosso casamento]. Fato é que a experiência com o Fusca praticamente me graduou mecânico e, exatamente por isso, sempre tive um flerte intenso com o portal de veículos dos Diários Associados, o Vrum, o que me levou a contribuir sistematicamente com algumas notas, reportagens e colunas, como a Rolimã, que produzi para o jornal impresso e também foi replicada no portal.

Entre as últimas coberturas para o Portal Vrum, antes de minha saída dos Associados, em novembro de 2013, está uma inusitada avaliação na estrada do subcompacto Fiat 500 Cult - e digo inusitada porque tenho 1,90 de altura - dentro do projeto #NaMiraDoVrum, que colocou jornalistas para avaliarem os veículos no uso particular ou em situações curiosas. Abaixo segue o texto da reportagem, com fotos minhas:

Uma viagem ao passado com o Fiat 500 Cult

Por Emerson Campos

Rumo à histórica e apaixonante Tiradentes, aceitei o desafio do Vrum de viajar a bordo do simpático Fiat 500 Cult, alvo deste teste. Ida e volta, o percurso foi de aproximadamente 400 quilômetros, chão mais que suficiente para verificar o desempenho do carrinho quando carregado com um motorista alto e ligeiramente fora de forma [são mais de 100kg distribuídos em 1,90m de gente], acompanhado pela esposa e duas mochilas que, juntas, não ocupam muito espaço nem ultrapassam os 20 kg. O veredicto? Com aperto no peito sentencio o óbvio: para o meu uso pessoal, o Cinquentento foi reprovado. Vamos aos porquês...

VISUAL

Sou apaixonado por clássicos. Tenho um Fusca 1975 e, se minha garagem e meu dinheiro permitissem, ampliaria a frota com um Simca Chambord Tufão, um Maverick e mais meia dúzia de vovôs. É exatamente por isso que o design neo retro me agrada e muito. No caso específico do subcompacto da Fiat, os toques clássicos o deixam extremamente simpático, sem muitos exageros por fora e por dentro, simplicidade que caiu no meu gosto há tempos. Esse foi um dos motivos que fizeram com que o Cinquentento se tornasse o primeiro da minha lista de preferências toda vez que o assunto era comprar um carro para minha esposa Juliana, posto no qual foi imbatível até este teste.

Carro tem visual como um dos pontos fortes para cativar os motoristas

Para não dizer que só elogiei a aparência, ficam como ressalvas o uso excessivo de plásticos nas portas e a luz laranja no painel que, mais do que feia, torna tarefa complicada observar com precisão todos os instrumentos no período noturno.

CONFORTO


Se o Fiat 500 tinha me ganhado no que fiz respeito ao visual, agora chegamos ao ponto crucial para reprová-lo em meu uso. Como disse no começo deste texto, venceu o óbvio: o subcompacto não foi projetado para transportar motoristas altos. Com 1,90, não existe posição ou ajuste de banco que torne a tarefa de dirigir mais confortável. Guiá-lo de BH até Tiradentes – que é uma viagem curta perto das que costumo fazer – foi uma tortura para a minha coluna, sendo que a única posição razoável, embora sem uma pegada firme no volante, foi encontrada graças ao corte para o teto solar existente na versão avaliada [parece brincadeira, mas é sério]. Inevitavelmente, toda vez que batia a cabeça ao passar em um buraco ou lombada, lembrava do amigo Luiz Martini, repórter do Superesportes, uns 10 centímetros mais alto e primeiro cogitado para dirigir o carrinho. "Não ia dar para ele guiar mesmo", repeti uma centena de vezes à Juliana.

Quando na cidade, fiz a troca com minha esposa, passando para o banco do passageiro. Mesmo na carona e sem precisar de me preocupar com os comandos do carro, o subcompacto se mostrou extremamente desconfortável. A escolha era: ou batia a cabeça no teto ou deitava mais o banco e era sufocado pelo cinto. Seja lá qual fosse a opção escolhida, o banco de trás estava fadado a ficar completamente anulado, virando algo semelhante ao chiqueirinho do Fusca, lembra?

Embora o objetivo fosse observar o Fiat 500 com uma pessoa alta no volante, também faço uma ressalva ao notar a Ju, de 1,65 m, dirigindo. Ela não gostou do câmbio mais alto e o ajuste de altura no banco não resolveu este problema, mas até aí acho que é só questão de costume, assim como a posição central dos botões para abrir e fechar os vidros. O mais grave mesmo é o cinto de segurança, que não tem regulagem de altura e ficou machucando o pescoço dela quando estava sentada na posição correta de guiar. Um ponto muito negativo. 

DESEMPENHO

A versão testada é equipada com um motor EVO 1.4 8V, que entrega 88 cavalos. E o carrinho é esperto. Embora não atinja uma velocidade final muito alta, isso não é ponto negativo para o Fiat 500, já que não temos rodovias para ir muito além do que oferece. Acostumado com os 97 cavalos do meu Prisma, confesso que na cidade estava achando o Cinquentento um pouco "estranho", mas o botão Sport fez toda a diferença na estrada. Ao acionar a opção, o subcompacto fica com o volante – equipado com a "deliciosa" direção elétrica Dual Drive – mais firme e torna mais rápidas as respostas no acelerador, o que permite ultrapassagens mais seguras e tranquilas. Outro espetáculo à parte do Fiat 500 está nas curvas, fáceis de contornar sem precisar reduzir sempre a marcha, uma economia gigantesca de esforço para quem está acostumado com um sedã.

Entre-eixos mais curto ajuda na hora de vencer as lombadas na estrada e as pedras do calçamento histórico

No que diz respeito ao consumo, abastecido com gasolina, o subcompacto fez média de 11,8 quilômetros por litro na estrada, andando o tempo todo com ar condicionado ligado e no modo Sport, um desempenho bom, mas abaixo do esperado. O ponto negativo é o tamanho do tanque do carro, de apenas 40 litros, que exige reabastecimento em períodos mais curtos.

OUTROS DESTAQUES

Hill Holder – O Fiat 500 te faz aposentar o velho hábito de contar com uma forcinha do freio de mão para arrancar na subida. Após tirar o pé do freio, o sistema Hill Holder mantém o veículo travado por quatro segundos na ladeira até que você acelere e faça o controle. No começo é comum que a ajuda te complique, mas em pouco tempo o ódio vira amor.

Regulagem de altura dos faróis –
Ferramenta com acesso difícil no painel – é preciso enfiar a mão pelo volante –, mas que ajudou muito na hora de vencer a neblina da madrugada na BR-040.  

Piloto automático –
Uma mordomia muito gostosa para viagens longas e em estradas boas. Pena que não foi o caso.

Função Bluetooth –
O Cinquentento não conseguiu reconhecer meu Samsung Galaxy Y, muito provavelmente mais por causa do aparelho do que por alguma falha no carro.

Sistema de som –
Não gosto de som alto no carro, mas o sistema da Bose faz jus à fama entregando um áudio de muita qualidade.

Porta-malas – Com apenas 185 litros, o porta-malas leva pouquíssima coisa. Colocamos duas mochilas, jaquetas e pronto, lotou. Na volta, parte das compras precisou ocupar o banco traseiro que, inutilizado pelo posicionamento do meu banco, acabou ganhando alguma função.

Controle de estabilidade – O ESP (Electronic Stability Program) é outro espetáculo no Fiat 500 e contribui muito para a realização das curvas. O carro ameaça se perder de frente e em uma fração de segundos o sistema o corrige, recuperando a trajetória e estabilidade. É de deixar qualquer um mal acostumado.

Entre-eixos e altura – Na estrada os impactos de buracos são sentidos com maior intensidade, resultado da essência do carro subcompacto. Por outro lado, o entre-eixos de 2,30 metros ajuda bastante ao passar pelas lombadas presentes nas rodovias, tornando a tarefa mais suave e evitando que o fundo do veículo raspe no asfalto. Esta característica se repete de certa forma nas pedras de Tiradentes, onde o carro tremeu muito, mas venceu todos obstáculos.

Na hora da baliza – O tamanho (3,54m) do Cinquentento é sem dúvidas um facilitador ao estacionar, mas que desafia até mesmo sua própria crença de que ele caberá na vaga. Na verdade, achei a característica mais útil ao mudar de pista nas rodovias.
Mochilas e casacos ocuparam todo o porta-malas, que tem apenas 185 litros

VEREDICTO
 
Com ótimo desempenho, troca de marchas precisa e bom consumo, o Fiat 500 Cult é um excelente carro para o que se propõe [a cidade!], mas não consegue atender pessoas altas e famílias que gostem de viajar. Esta tarefa me parece mais apropriada para o 500L, versão alongada do pequenino que será lançada nos Estados Unidos este mês. No que diz respeito à busca por um carro que atenda a Juliana (e me atenda quando necessário), voltamos aos hatches compactos.

ATUALIZAÇÃO [09/07/2013]

Depois de publicar esta reportagem rodei mais um dia com o subcompacto, antes de passar as chaves para a repórter Letícia Orlandi, a segunda no teste. Ao ligar o carro para o último passeio, a luz que indica um problema no airbag acendeu e uma mensagem no computador de bordo indicou a falha, orientando a buscar auxílio no manual. Rodei alguns quilômetros e, parado no semáforo, decidi mudar o ajuste de altura do volante e "dar umas buzinadas" (foi aí que percebi que a buzina não estava funcionando com muita facilidade). Fato é que a "gambiarra" resolveu o problema, que pode ser explicado (mas não justificado) pela quilometragem do carro, com mais de 21 mil km rodados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário